terça-feira, 19 de novembro de 2013

Das dores diárias...

        Chega um determinado tempo que você simplesmente se adapta a dor, que vira algo até rotineiro, todos os dias ela está com você, as vezes você chega a nem percebe-la mais, talvez seja por isso que o digam que o tempo cura tudo, cura? Ou ajuda a nos acostumarmos de uma forma que não sentimos mais?!
         Sabe aquele dia que você acorda mais não quer acordar? Aquele que você abre os olhos e pensa "droga acordei que merda!" Então você se levanta já pensando em tudo que vai ter que suportar pra passar por mais um dia. De tanto ri sem graça ao dar bom dia forçados, acaba internalizando uma forma de ser superficial, é como se de tantos esporros já estivesse calejado, hoje permiti me falar do que incomoda, porque não está exposto na vitrine não quer dizer que não exista, aquele sentimento que você carrega como uma mochila, você pode esconder mas não pode negá-la, hoje parece que sofrer por qualquer coisa é proibido, você não pode sentir-se triste com nada, os avisos dizem "sorria você está sendo filmado", talvez você possa até maquiar seu sofrimento através da raiva, do ódio, porque odiar é bem mais "normal" que sentir-se triste, como já disse Alanis uma vez, que a raiva era uma extensão covarde da tristeza. No meu caso, a sujeira embaixo do tapete as vezes chega a um ponto que não tenho como negá-la, ou encaro de frente ou a passagem sob o tapete fica impossível, eu não sou uma pessoa negativa, tenho me considerado neutro em vários âmbitos, tento ser realista, eu sou bem humorado, mas poxa as vezes cansa encarar tudo de uma forma positiva, não seria melhor simplesmente aceitar que algumas coisas não dão mesmo certo nem darão, aceitar e seguir com sua frustração a tiracolo? As vezes parece mais importante na vida a forma como lidamos com nossas dores diárias, do que como nos livramos delas, na era dos sentimentos efêmeros quase ninguém assume sentir-se triste por muito tempo por algo sem se enquadrar em alguma depressão ou sem receber aquele olhar preocupado de alguém próximo, parece anormal sentir-se triste, como se felicidade verdadeira fosse algo vendido no comércio da esquina, ou como se houvesse bastantes motivos para sermos felizes em meio a tanta desigualdade e injustiça no mundo, a minha felicidades além de egoísta seria falsa como uma Chanel comprada em um camelô ali da esquina, eu prefiro acreditar que quanto mais eu mastigo minha dor, mais fácil fica pra digeri-la, talvez seja o que falte atualmente mastigarmos melhor nossas dores, encará-las de frente e dizer "e aí qual é?!" até por quê chega a um momento que é você ou ela, e acredite as dores sufocam, as dores cegam, estagnam você em um patamar que quanto mais você fingir que ela não existe mais você se afunda nesta areia movediça, o jeito mesmo é garfa-la, pô-la na boca e mastiga-la com todos os dentes e línguas, saborear todas suas facetas até que ela suma, no sumo dos sabores já conhecidos, o azedo e o amargo só precisam serem adaptados ao nosso paladar, e com o tempo o que antes irritava, causava ânsia de vômito, amanhã poderá descer facilmente goela a baixo sem ser nem notado, é mais fácil engolir algo quando se conhece bem seu sabor e não quando o renega no prato, ele continua no prato, até apodrecer.

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