sábado, 14 de fevereiro de 2015

Matando pessoas.

           Dizem que nossa memória com um tempo se encarrega de esquecer certas coisas para que possa dar espaço a novas recordações, mas existem pessoas que sua memória parece que faz questão de deixar por mais tempo na sua cabeça, por mais que você odeie pensar nela, pensa, não adianta, o que te faz pensar como se existisse algo parecido como no filme "O brilho eterno de uma mente sem lembranças" seria bom, seria? Então você foca sua atenção, no trabalho, nos estudos, nos amigos, você evita a pessoa, mais aquela pulga atrás da orelha te consome mais que a fome no fim de um dia corrido, e você pergunta o quanto isso ainda irá durar, por que não conseguimos superar certos sentimentos, procura uma forma de matar essa pessoa em sua mente, exorcizar, tirar a força, mas bem não existe essa essa mágica, ou ainda não inventaram nada que o consiga.
         Nós matamos pessoas todos dias, aquele amigo do colégio que você não recorda o nome e fica constrangido ao vê-lo, tenta fingir que não viu, mas ele fala com você, meu deus, pra piorar ele lembra seu nome! E você nem se quer lembra de nada, aquele parente chato que você recusa ligações, ao meu ver vamos selecionando quem vive e quem morre em nossa história, e sim, é muito doloroso quando nesse jogo existe uma incompatibilidade, quando só você mantém a recordação viva e na outra parte você já morreu, a todo momento a cada olhar eu me pego fazendo analogias e tentando dar alguma lógica a tudo que me ocorre, um defeito? Talvez, nesse caso a pergunta é por que mesmo querendo esquecer continuamos lembrando? Existem coisas que mesmo anos depois ainda trememos ao falar sobre de novo, é tudo aquilo que foi varrido pra debaixo do tapete, que não digerimos engolimos e simplesmente descartamos, alguma coisa me diz que tudo que não entendemos fica retido em algum lugar das nossas memórias,  entender a liberdade do outro em ir ou vir, suas necessidades e suas dinâmicas é o que torna o processo digamos que mais "fácil" no final não esquecemos quem passou e deixou marcas, quem queríamos reviver mesmo já tendo ido embora, assim como a morte real de pessoas queridas, quanto mais você questiona a morte, menos você aceita e mais sofre, em um processo lento de luto o que cura não é o tempo, pois este é relativo, é subjetivo, e sim a forma que você entende a perda, quando queremos matar alguém pelo simples fato de não querermos mais lembrar é por que ainda não entendemos o que a fez a pessoa não mais querer está ao nosso lado, e então por mais chato que seja os sentimentos ruins que vêm após uma partida não aceita por você, o que você faz da situação é o que define o quanto essa pessoa viverá em sua mente, alguns sentimentos são tão masoquistas que queremos que as pessoas aceitem ser nossos saquinhos de batata, ou melhor nosso saco de areia, ainda acho mais, dói muito sermos contrariados, principalmente com sentimentos que vinculamos a alguma pessoa que não o desenvolve da mesma forma, e as vezes esse processo de matar alguém na nossa memória, ao mesmo tempo, também significa dar vida a pessoa, dar chances de viver e tentar uma forma diferente de encaixar as peças certas do quebra cabeça em lugares em que elas façam mais sentido pro desenho total, perceber a necessidade do outro é também mudar o foco da imagem de querer esquecer, no final ninguém mata ninguém, são as formas de viver que mudam as peças ao redor e sua capacidade de perceber o evento de uma forma diferente, passar o ódio, o rancor e a mágoa, vemos que matar alguém não é a saída e sim compreender a vida como mutação, abrindo o coração para que vidas novas nasçam, para entender o contexto do todo é vital também entender que alguns personagens saem de cena para que outras histórias possam surgir.

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