sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A quem pertence nossa vida?

       Em meio  tantas notícias sobre assassinatos, homofobia, crimes passionais, latrocínios, o título do texto é a única pergunta que pulsa em minha mente, a cada dia o que vemos mais e mais é o desperdício da vida em prol a questão tão banais, morremos pelo que somos, pelo o que não somos. pelo que possuímos e até por aquilo que não temos, parece que voltamos a idade antiga, ou melhor pra idade da pedra mesmo, e eu me questiono a quem pertence a minha vida? Como eu posso viver sendo basicamente eu mesmo enquanto o mundo me bombardeia de ideias, de modos, regras, dizem pra mim não fumar, não gozar, não sair, não transar, me encaixam em conceitos feitos por estilistas, religiosos, educadores, dizem as roupas o que devo ou não devo falar, como eu devo comer e como me portar, dizem de quem eu devo confiar e pra quem eu devo rezar, e principalmente me dizem no que devo acreditar. Eu fico imaginando o porquê de tantas pessoas projetarem no mundo seus gostos e desejos, como se cada um quisesse encaixar o mundo no que eles mesmos acham correto, é algo muito íntimo e não sei se é só meu, não veio da minha educação, não aprendi em lugar nenhum, não é não julgar porque isso todos fazem intencionalmente ou não mas sabe apesar de ser contrário não se importar e respeitar, é algo que nem gosto de discutir se eu prefiro o azul ao verde por exemplo jamais persuadiria alguém a ter a mesma escolha, você já se questionou de onde vem suas escolhas e num momento qualquer escolheu sem pensar?! Você já sentiu o vento bater da janela do carro viajando pra praia e sentiu por um segundo a liberdade utópica que compramos todo dia através da ideia que nos foi ensinada disso?! Hoje eu cheguei em casa e fiquei a pensar quem eu teria que ser para poder sobreviver no meio social, o que eu teria que vestir, o modo que eu devia falar e como me portar, que vida medíocre! E eu achando que só sofri de castração na infância, mais parece que os adulto tem um certo prazer na castração alheia, a sua felicidade que só é permitida se não for maior que a minha, ou que o ser humano realmente é algoz da vida do outro, e há quem acredite que a vida está na mão de Deus, o Deus das ruas que atira e mata, o Deus que subjuga que humilha que gera sofrimento psicológico, o Deus que faz você querer morrer, ou que faz você acreditar que a morte é o melhor caminho, o Deus que segrega rouba e mata de fome, o Deus que deixa sem moradia ou que te vicia em alguma droga e te ensinar a matar, o Deus que ri do seu peso/cabelo/roupa, o Deus que não permite sua entrada pois você não está no nível do local, tantos deuses e tantas vidas ao Deus dará, a vida do gozo, da independência, da busca das realizações que ensinam na infância dá lugar a vida do medo, da fuga,  a vida teatral de todo dia, das atuações, aturações, indignações caladas, dos remédios tarja pretas, das trajas pretas que vendam os olhos diante da própria vida, negar a vida é saída para viver hoje em dia, vamos nos negando, nãos nos permitindo, a vida hoje parece morrer, vamos nos fingindo de mortos para viver, que ironia, e a pergunta que fica sempre é essa de quem é nossa vida? E na mão de quem ela está? De quem pertence meus anseios e por o que(m) estou vivendo se não por outrora sinto como se minha vida pertencesse a tudo e a todos menos a mim mesmo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Superfície.

        Dado um tempo perdido no espaço tudo se empoeira, embaça, a imagem vai se desfigurando em meio ao pó, a memória tem prazo de validade e se valida por muito pouco tempo, a superfície empoeirada vai dando aspecto a outra imagem que se recobre e se refaz a cada dia, a solidão é companheira sagaz, tenaz, não se compartilha dor e não há algo mais angustiante do que ser aquele em que sente tudo só pra si, sou a matéria  prima recoberta de poeira, sou a foto que perdeu a cor em um álbum perdido, a efemeridade das coisas me espanta, a rapidez dos sentimentos volúveis, somos estações que ficam quando o trem parte, guardo um pouco de tudo que se vai e deixo um pouco de mim por onde passo, sou mais nostalgia que otimismo, a superfície empoeirada esconde e maquia o brilho de outrora, mas eu sei que não apagou nada, ainda existe o brilho, ele está lá na distancia de uma polida macia e breve ou mesmo de um sopro, a maleabilidade dos sentimentos é sagaz, te impulsiona e também te traga, o que me leva a pensar que a vida é amar sem querer pra si, é sentir o máximo possível o objeto/momento ali em mãos, pois não mais tardar poderás não tê-lo mais, é apreciar a vista sem a ganância de querer abarcar tudo em braços, meu medo é que a moral da história de vida seja bem triste, tipo a daqueles filmes que sem sentido, em que o mocinho morre e a sua amada vive de lembranças do que já não é mais o que foi, porque ensinam a vida toda que toda história tem uma moral, qual será a moral da vida se no final tudo vira pó, a superfície e o que está por baixo dela, o que é visível e o que não se vê, os risos se calam e a lágrimas cessam, a vida é sentir e o não mais sentir é a morte e a gente ainda morre várias vezes ainda em vida, passamos por tantos lutos e percas, luto por projetos, amores, trabalhos, amigos que deixam de ser amigos, mudanças, luto de sentimentos que morrem diante a rotina, luto pela fé e esperança em coisas que não voltam, passada a chance na hora determinada, o superficial que está a vista, o que é mostrado é muito pouco diante da densidade de coisas que sentimentos durante míseros segundos, "a vida é curta" ou a vida é um curta-metragem que quando menos esperamos se esvai, risos maquiam tantas coisas e a superfície dos móveis na sala empoeirados são como eu, que foram lapidados e moldados para uma utilidade mas que agora acumulam poeira, o tempo é inexorável e diante dele tudo padece, a superfície resiste as lágrimas e risos mas não ao tempo que a enruga e a caleja, a superfície oscila e se move e sacode a poeira, cansa, para e aceita o pó sem regurgitar, de modo sucinto e calmo entrega-se, é sempre uma expressão, o que "tá na cara", mas será que dá pra traduzir nessas bordas externas, em bocas, olhos e franzidas de testa todo o movimento interno? Ou seria apenas uma gaiola a aprisionar um conteúdo que nem nós mesmos sabemos denominar? Um casulo a libertar uma borboleta ou apenas uma superfície acumulando poeira, e quem ou à quem fica encarregada a tarefa de lustrar? De remover a sujeira acumulado para que se enxergue de novo o brilho que estava lá?! Hoje eu não sei, mas quem sabe a janela aberta e o vento a entrar não retire toda essa poeira pela manhã ou mesmo um novo olhar sobre o móvel velho não o torne novo de novo, a relatividade suspensa no ar não acumula sob a superfície das coisas, mas concretiza possibilidades diante do tempo, a certeza é que sempre irá ter poeira acumulando o que muda é você ter coragem e força de sacudir tudo para poder seguir.