No meu silêncio cabe todo barulho do mundo, no meu "não é nada" cabe todas razões e explicações possíveis, na minha suposta ausência de sentimento cabe todas lágrimas e dores mundanas, é uma forma de sobreviver, vou me esquivando ao máximo mesmo mergulhando com tudo, nego-me ao mesmo tempo que pulo de um precipício sem nem hesitar.
Quanto mais neguei a ausência se fez presente e então chorei, chorei como uma criança, quando mais dei as costas e fingi estar bem mas me entreguei a uma dor tão profunda e cortante, dizem que o que não tem jeito remediado está, mas deve ser um remediado a efeito placebo, ou então um tratamento homeopático, nada satisfaz nem muda, a realidade está exposta, não sei lidar com a morte, simplesmente me nego a acreditar que a pessoa não existe mais, me vem uma vontade de ligar, de ir na casa, de sair louco no mundo a procurar até achá-la, eu me nego acreditar que o fim seja um buraco escroto e qualquer com terra por cima, como um animal qualquer, eu me nego a viver sabendo que o trágico final nosso será sucumbir ao nada, cético como sou eu não quero planos pós vida apenas uma garantia de onde estas pessoas estão, eu vou encontrá-las? Eu sei que não terei estas respostas eu sei que terei que me conformar com esta incógnita, quando falam aqueles blá blá blás de religiões e pós vida sempre dava as costas eu sempre acreditei que eu era eterno, um superman, uma exceção a vida humana,então quando tenho experiências como a morte de alguém próximo entro em total desespero, o choque da rapidez como a morte chega sem avisar e como a vida se acaba com um simples suspiro me apavora, a ligações que são cortadas, as palavras que não são ditas e para sempre estarão silenciadas, o que fica para trás, sem consolo, sem remédio, sem jeito.
Desolados continuamos vivendo, mergulhando em perguntas nunca respondidas, nem a ciência nem religião, nem a mais tenra fé poderia ser capaz de silenciar a angustia deflagrada, recebida a queima roupa, estamos sós, totalmente a sós, o amor a amizade, as pessoas podem até amenizar a dor mais nunca cessa-la, o que resta somos nós, vivos? Mortos? Mortos em partes, é a realidade dura e fria na nossa cara, nos dizendo ao acordar que cada minuto pode ser o último e nem todo tempo do mundo seria suficiente para explanar a vontade de viver diante da morte, o que resta somos nós, cronologicamente fadados ao fim, sem razão sem por quê, viver se tornou uma jornada triste e silenciosa desde então, os risos nunca deixarão meu rosto em contrapartida essa angustia sempre terá lugar cativo no meu peito, o que resta sou eu, disfarçando esse sentimento, ocupando minha mente, varrendo os sentimentos ruins para debaixo do tapete, lugar de onde nunca sairá, porque por mais que eu siga adiante ele estará aqui, as vezes embaixo do tapete outras do travesseiro, e quando eu deitar ele estará lá me incomodando, o que resta então é mais um xícara de café pra começar o dia e uma cachaça pra terminar, eu posso guiar-me à luz do sol e da lua durante os dias, mas na vida meu caro, na vida a luz é uma só, é torcer pra sempre estar iluminado, e aceitar que cedo ou tarde essa luz irá se apagar, assim sem dar satisfações, sem mais ou menos, o que resta somos nós criando maneiras de nos distrairmos e não repararmos quando de repente escurecer.
*Texto dedicado ao meu pai falecido no dia 23/11/13
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
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