quinta-feira, 4 de julho de 2013
A falta e a posse.
Dessa ansiedade toda de amar eu não tiro nem levo nada, ao contrário ela me subtrai tudo, desde as esperanças até mesmo o reparo e o zelo no olhar do presente. Essa vontade toda de viver aquilo que não conheço e destas lembranças futuras guardadas e almejadas com tanto esmero, do que será feito o amanhã se nem mesmo consigo viver o agora?! Antes a vida era olhar o horizonte pela janela e imaginar tudo que devia haver além deste mesmo horizonte, hoje é mais sobre sentir o vento na janela e suas carícias, foi quando eu parei de imaginar e comecei a reparar que podia sentir ao envolto do corpo, o que deixa de ser eu mas continua fazendo parte de mim, "chega de anseios!" disse ao espelho, os olhos seriam o guia, o tato meu alerta, todos meus sentidos voltados ao que se é, nada mais deixou de ser, nem seria, além do mais fechei as cortinas pro horizonte, criei o além do horizonte mesmo sem ter ido lá ver, o refiz todo aqui como eu queria. O tempo e seu tic-tac martelando como um alarme, das tripas que fiz meu coração, desfiz e fiz corda de balanço, pendurei esperanças no quintal, desfiz expectativas, joguei todas fora no lixo, priorizei as perspectivas do olhar e dos sentidos, fui e sou mas nunca serei, se já não posso me lançar ao futuro dos sonhos agarro-me somente a realidade do presente, que me presenteia com instantes ora de agonia ora de risos estranhos e estridentes, voluptuosidade das sensações vividas no momento em que se fala, que se olha antes do encerramento da respiração, tudo virou instante, que se perduram em ciclos, roda, ciranda de sensações, espreito-me para alusão dos batimentos cardíacos das minhas emoções, refiro me a elas como batimentos cardíacos pois elas são vitais para mim tais como, mudam seu ritmo pela manhã consoante ao bailar doce da fumaça do café, a tarde repousa como sono pós almoço, a noite aguçam a sede da libidinagem noturna, da conquista receosa do que ainda não se conheceu, mas agora que serás de mim sem projetar? A resposta seria um projeto torto e inacabado, mais esta é a graça de tudo que não está acabado, é a falta da peça chave, sempre faltará, que não me faltes agora a sua falta, que não me falte a ausência de algo, pois é ela que me sustenta, a falta e não sua descoberta, não eu ficar me martirizando em como a peça é ou vai ser, ou qual peça seria esta a faltar, não, não adianta que eu não quero mais saber o que virá e quais peças virão ou não, bailo no acaso do presente e refaço com a falta do que ainda não possuo, pois dentre o que não possuo sobra tudo aquilo que já tenho, descubro que o que já me basta é tudo isso as vitórias já conquistadas e as batalhas que ainda virão mesmo sem a certeza da vitória ou se será taça, medalha ou o que quer que seja o prêmio, é tudo uma questão de ser, tendo-se ou não, pertencendo-se ou não, seja, padecendo-se ou não.
terça-feira, 2 de julho de 2013
Dentro da gaiola.
Este corpo nada mais é que uma gaiola, sem saída, aprisiona algo abstrato cujo jamais poderia descrever, nem mesmo no meu maior delírio criativo poderia explicar o que se passa dentro desta jaula, as vezes sinto como se tivesse um ser minúsculo dentro da minha cabeça controlando tudo, ou algum ser desconhecido que inventou este corpo e me enviou para analisar este mundo, vejo tudo, observo mas compreendo pouquíssimas coisas, recentemente percebo que consigo mais organizar as coisas dentro dessa gaiola sem externar nada, poucas vezes consigo traduzir o que acontece por dentro. E lá vou eu aprendendo outra vez a andar, dia pós dia, pondo a carruagem pra andar, dessa vez sem por o carro frente aos bois, enquanto controlo uma tempestade por dentro disfarçando com uma expressão serena e calma por fora, a jaula vira disfarce, caminho entre as pessoas, extraio alguma diversão é o ponto onde tudo se confunde, qual o preço desse entretenimento, quanto vale a distração das coisas e a perca preciosa do tempo, desperdiço-me dentro desta gaiola, a previsão do fim torna tudo mais angustiante, um tic tac rola dentro da sala de visitas da minha cabeça, vazia e assustadora espera. Já avistei uma certa troca de valores em todas as relações existentes, nada é de graça por aqui, humanos e suas 'humanisses' ou seria desumanidades? A gaiola que prende e aprisiona você, diferentes celas e engradados, selvageria gritante, magnetismo corporal?! A noite tem todo um aspecto diferente para os corpos que se atraem, o clima matinal que morre dá lugar à um desejo animal, caça, presas, tudo vira um jogo de perdas e ganhos, a noite dita regras que só são reveladas pra jogadores que pertencem à ela, e como verbalizar tudo que vemos e sentimos e como traduzir em códigos legíveis toda insanidade dentro de nós, tudo aquilo que me parece tão normal pra mim e tão fora do comum ao outro, a aceitação dos instintos, o que vai cessar toda esta agonia de viver? seria o encontro de algo sobrenatural ou seria o fim e a possibilidade de uma vida pós vida? Segue tudo numa sequência de questionamentos sem respostas, o corpo que dança e caminha sobre uma corda bamba chamada acaso, alguns contam com algo chamado sorte, enquanto uma inteligência artificial e criada pelos seus ancestrais e repassada fazem alguns acreditarem ora em um Deus, um ser superior fora do entendimento humano, ora no saber do próprio homem, no cientificamente provável por ele mesmo, mas quem será que provará a certeza de tudo que não se prova dentre nós, todas as conexões, atalhos, sentimentos, as lágrimas que soam como óleo nessas engrenagens, por que não ser tão mecanicamente, mera logística matemática vida?! Por que essas perguntas ainda sem resposta? Essa linha vivida, estrada habitada por personagem mutáveis que tanto mudam suas faces e falas? entre pessoas que vem e que vão, entre esta coletânea de dúvidas vou seguindo com a extrema certeza de não ter certeza, aprisionado sim, imutável nunca! Já que não consigo descrever o que há dentro ora pois ele terá então a forma que quiser, você pode rotular como quiser a gaiola mais jamais decifrar o tipo de 'animal' que a habita, este poucos irão saber enxergar e ver além da gaiola, por trás das grades é que realmente existe um eu.
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